Sandra Simão Francisquini e Marcos Antônio Francisquini

No sítio Santo Antônio, em Cambará-PR, os canteiros dedicados ao cultivo de alface – já produzidas com o mínimo de insumos convencionais externos – evoluíram para uma diversificada produção orgânica certificada de hortaliças, como abobrinha, almeirão, berinjela, cenoura, couve, rúcula, tomate, dentre outras variedades.

Essa mudança foi possível para o casal de produtores Marcos Antônio Francisquini e Sandra Simão Francisquini depois que eles ingressaram no Programa de Desenvolvimento da Agricultura Sustentável, em 2021.

Desenvolvido pelo Sebrae/PR e executado pelo Instituto BioSistêmico (IBS), o programa conta com a parceria do Instituto do Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR – PR) e das prefeituras, e sindicatos rurais de oito municípios da região Norte Pioneiro do Estado: Cambará, Jacarezinho, Congonhinhas, Santana do Itararé, Carlópolis e Siqueira Campos.

A iniciativa tem como objetivo desenvolver a hortifruticultura nesta região, por meio do aporte de tecnologias de produção e da implantação de elementos de modernização, adequados à realidade socioeconômica de cada produtor. A ideia é promover a sustentabilidade de cerca de 100 propriedades que integram atualmente o programa, com foco na certificação orgânica.

Marcos Francisquini foi o primeiro produtor certificado a partir do programa, em 2023. Até o momento, 17 produtores foram certificados e já comercializam sua produção na região e para outros mercados. Do total de produtores que integram o projeto, 30 estão em processo de certificação e os demais iniciando a conversão do cultivo convencional para o orgânico e devem iniciar o processo no decorrer de 2024.

Conhecimento para a prosperidade

De acordo com o casal Marcos e Sandra, quando eles produziam apenas alface no sítio Santo Antônio, a produção era sazonal e atacada com frequência por diferentes pragas e doenças. Eles relatam que não sabiam o que deveriam aplicar para cada situação e dependiam da orientação técnica de empresas que comercializam agrotóxicos.

“Depois que ingressamos no projeto, passamos a ter acompanhamento e acesso à tecnologia pelo IBS e parceiros, e aprendemos a utilizar e preparar os bioinsumos. Hoje, para cada situação, sabemos o que é necessário aplicar e como a aplicação deve ser feita. Melhoramos nossa produtividade e a qualidade dos produtos cultivados e passamos a economizar na compra de insumos, pois muito do que usamos é feito com recursos disponíveis no sítio” afirma Marcos.

O produtor acrescenta que, com a diversificação dos cultivos, passou a ter produtos para vender durante o ano inteiro. “Vendemos a nossa produção na feira semanal, toda sexta-feira em Cambará e fazemos a venda direta ao Estado para a merenda escolar.

Para o casal, o suporte do Sebrae e dos parceiros foi fundamental para alcançarem a certificação e aperfeiçoarem os processos envolvidos na produção, o que melhorou a gestão da propriedade. “Antes, nós não sabíamos fazer a gestão do sítio, não tínhamos o controle de nada. Hoje, o trabalho aumentou, pois produzimos mais e fazemos o controle de custos e da produção. E o resultado disso é mais prosperidade e qualidade de vida para minha família”, garante Marcos Francisquini.

Como funciona o programa

Iniciado em 2021 no município de Cambará, o Programa de Desenvolvimento da Agricultura Sustentável do Sebrae e parceiros atende agricultores familiares de hortaliças e frutas, com cultivo protegido e a campo. A partir dos resultados e do apoio do Sebrae para aproveitamento da vocação da região e interesse dos produtores e parceiros, o programa expandiu para seis municípios da região, passando de 10 para cerca de 100 produtores atualmente.

Como executor da iniciativa, o Instituto BioSistêmico atende os agricultores de forma coletiva e individual, através do Programa SebraeTec, introduzindo novas tecnologias e discussões que ajudam a reorientar a gestão da produção, da propriedade e dos demais componentes envolvidos no processo.

Dia de campo do programa realizado no sítio Santo Antônio em Cambará-PR

Conforme explica Claudio Pinheiro, diretor de ATER do IBS, as informações geradas e a tecnologia aportada estão em sintonia com a realidade e a capacidade de cada propriedade. Ele observa que, a partir das práticas e resultados alcançados, os agricultores sentem-se motivados para iniciarem a conversão da produção para o sistema orgânico, buscando em seguida a certificação.

“Percebemos que os agricultores têm grande interesse por técnicas produtivas mais sustentáveis, que possibilitem fazer frente aos desafios produtivos atuais, viabilizando a continuidade da atividade pela família”, relata Pinheiro.

A jornada dos produtores é acompanhada pelo engenheiro agrônomo do IBS, Danilo Grapiúna, especialista em Certificação e Avaliação de Conformidade e consultor para produção orgânica. A partir de março deste ano, a equipe do IBS ganhou o reforço de mais dois agrônomos experientes na produção orgânica para estes acompanhamentos, e estão iniciando os atendimentos.

Para Danilo, é gratificante perceber a evolução e o empoderamento dos produtores a partir da adequação à produção orgânica, que envolve diferentes etapas. Entre os desafios superados pelos produtores que alcançam a certificação, ele destaca as mudanças no processo produtivo e o atendimento às exigências da legislação da produção orgânica.

Desenvolvimento local

De acordo com Odemir Capello, consultor do Sebrae/PR, o Programa de Desenvolvimento da Agricultura Sustentável faz parte de uma proposta de desenvolvimento territorial, na qual o Sebrae tem atuado em diferentes cadeias produtivas junto com parceiros locais para tornar a região Norte Pioneiro do Paraná referência em produtos diferenciados.

Conforme explica o consultor do Sebrae, por meio da atuação do Instituto BioSistêmico e da parceria com as prefeituras e demais instituições, o programa tem levado capacitação e qualificação aos agricultores familiares da região, o que tem proporcionado a transformação de muitas propriedades que estão mais preparadas para atender o mercado consumidor.

“Nosso objetivo é fortalecer este segmento tão importante que é a agricultura familiar, contribuindo para a viabilidade econômica e sustentabilidade das pequenas propriedades. Para isso, fomentamos a inovação, o associativismo, além de proporcionar a qualificação dos agricultores para a produção orgânica e certificação”, destaca Odemir Capello.

Devido à topografia de relevo acidentado e por ser composta em grande parte por propriedades familiares, a região tem uma vocação para a produção de alimentos, que está sendo fomentada pelo Sebrae, que se soma à sua localização geográfica, não distante de centros consumidores como Curitiba-PR e São Paulo-SP.

“Essas características têm atraído importantes compradores interessados na qualidade e na quantidade dos produtos disponíveis na região. A aproximação com compradores já está em andamento e algumas negociações já foram iniciadas. Isso contribui para a geração de renda das famílias e abre novos canais de comercialização, possibilitando a participação de mais agricultores no programa”, acrescenta o consultor do Sebrae.