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Vaca Móvel: 10 anos de promoção da qualidade do leite na agricultura familiar

 

Vaca Móvel em atendimento na Região Nordeste.

Vaca Móvel em atendimento na Região Nordeste.

Promover a melhoria da qualidade do leite e da sanidade animal, sobretudo no âmbito da agricultura familiar, em diferentes regiões do Brasil. Com esse propósito, o Instituto BioSistêmico (IBS) lançou em junho de 2008 o primeiro Vaca Móvel, um carro equipado com laboratório para análise do leite nas propriedades rurais. O lançamento foi feito no município de Votuporanga, no interior de São Paulo, região onde o IBS executava, nesse período, um projeto do Sebrae/SP voltado ao desenvolvimento da pecuária leiteira.

“O Vaca Móvel surgiu em função da necessidade dos produtores se enquadrarem nas novas regras de produção e qualidade do leite, estabelecidas por meio da Instrução Normativa 51 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Percebemos que os mesmos sabiam muito pouco de qualidade, especialmente com relação aos testes e ensaios que conferiam e atestavam os dados do leite retirado por eles. Como nossa proposta era de levar tecnologia para o campo, pensamos na época em equipar um veículo com um analisador de leite para servir de referência e orientação aos produtores”, explica o diretor corporativo do IBS, Luís Henrichsen, que foi o idealizador do invento.

De acordo com ele, a invenção é marca registrada do IBS junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) desde o ano de 2010. O Vaca Móvel nasceu dentro de um importante projeto de fomento à pecuária da carteira de produtos do IBS e acabou por nomear esse mesmo projeto. O projeto Vaca Móvel e a unidade Vaca Móvel andam juntos desde 2008, servindo, principalmente aos produtores da agricultura familiar que, normalmente, não têm acesso fácil às tecnologias de análise da qualidade do leite.

Em 10 anos de trajetória, já foram realizados 38.395 atendimentos pelo projeto Vaca Móvel, abrangendo cerca de 5.900 produtores em 16 Estados do Brasil. “Como resultado prático, podemos dizer que mais de 75% dos produtores se adequaram às normas de qualidade do MAPA para todos os quesitos observados. Outros 90% estão em conformidade para os parâmetros de sólidos e composição do leite. Para os indicadores de higiene e limpeza, 83% dos produtores atingiram a conformidade e 75% tem indicadores conformes para sanidade de úbere”, destaca Luís Henrichsen.

vacamovel

Desde a unidade lançada em Votuporanga, já foram montadas muitas outras que estão espalhadas pelo Brasil para servirem a diferentes projetos em diversas regiões. Em 2011, o Vaca Móvel foi protagonista da Expedição Via Láctea, a primeira do gênero, que percorreu regiões polo de produção de leite no Brasil, realizando testes de qualidade do leite para produtores e consumidores e ressaltando a importância de trabalhar para a qualidade do produto. Durante a expedição que durou cinco meses, foram percorridas 51 cidades, visitadas 510 propriedades, realizadas palestras para mais de 4700 pessoas, abrangendo localidades do Rio Grande do Sul até Goiás, com quatro unidades móveis simultâneas.

“Temos um orgulho imenso de sermos responsáveis pelo Vaca Móvel que tem levado tecnologia e informação aos currais deste Brasil adentro, na origem do produto, onde faz toda a diferença demonstrar as características do leite produzido e apontar soluções para que se alcance a melhoria da qualidade do produto. E o maior legado desses 10 anos de trabalho é o desenvolvimento possibilitado aos produtores familiares atendidos, que normalmente são excluídos do acesso à tecnologia e inovação. Os ensinamentos compartilhados sobre qualidade do leite e sanidade passam a fazer parte da rotina das propriedades, um conhecimento que permanecerá entre os produtores em prol do desenvolvimento da pecuária leiteira ”, acrescenta Henrichsen.

Legado aos produtores

Segundo a consultora do Sebrae, Eliana Cristina Germano, o Sebrae-SP Escritório Regional Votuporanga atendia aproximadamente 320 produtores de leite em 42 municípios da região de Votuporanga em 2008. “O Vaca Móvel chegou no momento certo para acrescentar nos atendimentos as análises de qualidade do leite realizadas no laboratório móvel. A análise era realizada na hora do atendimento ao produtor na propriedade rural, dando a ele a segurança em todo processo da atividade leiteira”, destaca.

Eliana Cristina relata que os grupos de produtores de leite se fortaleceram com o projeto, tornaram-se mais organizados e passaram a entregar aos laticínios um produto de melhor qualidade. Ela pontua que o grande impacto para o produtor foi poder negociar junto aos laticínios melhores condições de pagamento pela qualidade do leite comprovada nos relatórios do laboratório móvel.

“Num período de aproximadamente seis anos, o legado deixado aos mais de 500 produtores rurais atendidos é inestimável. Eles adquiriram mais conhecimentos sobre todo o manejo leiteiro, aprenderam a fazer a leitura dos resultados das análises do leite, tendo parâmetros e orientação para a melhoraria da qualidade do produto. Quando encontro produtores rurais em eventos na região, é comum lembrarem com entusiasmo dos atendimentos feitos com o Vaca Móvel no projeto Leite Pioneiro, desenvolvido pelo Sebrae/SP, que tinha como objetivo fomentar a qualidade do leite, a produtividade, gestão e acesso a mercados”, ressalta Eliana.

Produtor José Garcia, a esposa e o filho.

Produtor José Garcia, a esposa e o filho.

No município de Terenos, no Mato Grosso do Sul, o produtor de leite José Garcia conta que o Vaca Móvel revolucionou a produção de leite no lote da família, no Assentamento Patagônia. “Toda vez que eu acordava para tirar leite, rezava para que minhas vacas estivessem em pé, de tão fracas que eram. Com uma média de 25 vacas em lactação, a produção era de 50 litros por dia. Era um trabalho danado para quase nada. Tinha vaca que nem chegava a dois litros. Mas depois das visitas com o Vaca Móvel, passamos a realizar a análise do leite e aprendemos o que fazer para melhorar a qualidade do nosso produto com medidas simples de higiene na hora da ordenha”, afirma.

José Garcia diz que também aprendeu a fazer o planejamento para alimentação do rebanho, o que ajudou a aumentar a produção. Dois filhos dele que trabalhavam fora voltaram para ajudá-lo na atividade leiteira. Juntos construíram um novo curral, fizeram piquetes no lote e começaram a plantar cana e milho com a meta de fazer silagem para os tempos de seca. O resultado não demorou a aparecer, a produção diária pulou de 50 para 200 litros de leite e a família passou a receber uma bonificação por qualidade na venda do leite.

Para a produtora Elza Aparecida Pereira da Silva, do município de Cezarina em Goiás, o Vaca Móvel representa muito mais que o aumento da produção de leite e a melhoria da qualidade do produto. “Com a presença do laboratório móvel, passamos a ter consciência da qualidade do leite que sai aqui da nossa propriedade. Seguindo as orientações certinho no dia a dia, o bom resultado aparecerá nos testes. E nossa maior satisfação é a de dever cumprido por entregar um leite de qualidade que pode ser consumido com tranquilidade pelo consumidor final. Fazer a nossa parte e poder comprovar que entregamos um produto de boa qualidade não tem preço”, destaca.

Sobre o projeto

Por meio do projeto Vaca Móvel, as propriedades recebem a visita de um consultor especializado (médico veterinário, zootecnista ou engenheiro agrônomo) que faz o teste da qualidade do leite no laboratório móvel. Grande parte do resultado dos testes é entregue no momento da visita técnica e o produtor já recebe as recomendações para os ajustes necessários.

Além de os técnicos realizarem a análise do leite, verificam a infraestrutura para o manejo nutricional e de ordenha. Após a visita, são feitas as recomendações técnicas para implemento das melhorias necessárias, com foco na qualidade do leite e na sanidade do rebanho.

Quando a tecnologia vai até o produtor, fica mais fácil demonstrar com os resultados de laboratório a necessidade das mudanças na infraestrutura do empreendimento rural: local adequado para ordenha, cultivo e beneficiamento da alimentação do rebanho, condições de higiene, entre outros. As recomendações para as melhorias de infraestrutura são pautadas na realidade de cada propriedade, para que seja possível para o produtor realizar as mudanças necessárias.

O projeto colabora para melhorar a conscientização dos produtores sobre a importância das melhorias em infraestrutura, alimentação do rebanho e condições de higiene (que passam pela ordenha, armazenamento e entrega do produto). O produtor aprende que se ele fizer a sua parte, a qualidade do leite irá melhorar e, com isso, o consumidor final terá acesso a um produto de origem confiável e com características que não coloquem em risco a saúde da população. Dessa maneira, estabelece-se um caminho propício à rastreabilidade do produto oferecido, além de uma relação transparente que favorece a confiança do consumidor nos fornecedores.

 

 

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