Canteiros coloridos e compostos de variedades diversas de hortaliças PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais) estão ganhando espaço em comunidades rurais do Oeste Baiano, região onde o Instituto BioSistêmico (IBS) atende 24 empreendimentos da agricultura familiar, no Projeto Bahia Produtiva. Açafrão da terra, araruta da Bahia, coentro, ora-pró-nobis, vinagreira roxa, cará roxo, quiabo de metro e maxixe do reino são algumas das espécies que estão sendo cultivadas a partir de capacitações que vem sendo realizadas pelos Agentes Comunitários Rurais (ACR), orientados pelo IBS.
Até o final do mês de janeiro, foram realizadas 10 capacitações e a ideia é replicar o conhecimento sobre PANC nas 24 comunidades atendidas pelo IBS. Essas ações resultam de uma importante oficina sobre PANC realizada pelo Projeto Bahia Produtiva no mês de dezembro, sob a condução do pesquisador Nuno Madeira, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que é referência nesta área.
Em setembro de 2019, O IBS e a Escola Família Agrícola (EFA) de Correntina-BA implantaram um banco de germoplasma de PANC, que já está produzindo mudas e sementes de algumas variedades utilizadas nessas capacitações. Boa parte das variedades cultivadas foram fornecidas pela Embrapa Hortaliças de Brasília-DF.
“O propósito deste banco é fazer chegar às comunidades atendidas pelo IBS na região uma diversidade de alimentos que deve contribuir para melhorar a qualidade da alimentação e contribuir com a segurança alimentar e nutricional das famílias, que é um dos pilares do Projeto Bahia Produtiva ”, destaca Sidnei Niederle, que atua como coordenador pedagógico pelo IBS no Bahia Produtiva. Ele acrescenta que esse trabalho, de compartilhar o conhecimento sobre PANC por meio dos ACR, contribui para o aumento da oferta de alimentos nas comunidades.
Conforme explica o pesquisador Nuno Madeira em uma reportagem publicada no site do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), “as Plantas Alimentícias Não Convencionais são aquelas que não são corriqueiras, não têm cadeia produtiva estabelecida, não estão no supermercado de primeiro de janeiro a 31 de dezembro como as convencionais”. O especialista acrescenta que o resgate do uso desse tipo de planta é importante devido ao grande valor nutricional e para a valorização cultural e histórica do país.
Conhecimento compartilhado
Para Mara Mirelly Prado de Oliveira, ACR que atua na comunidade Vau do Itagari, no município de Cocos-BA, a oportunidade de participar da oficina de PANC foi de grande importância. “Aprendermos a dar mais valor a essas plantas que eram bastante consumidas antigamente, descobrimos o excelente valor nutricional que elas possuem, além de serem saborosas. É gratificante compartilhar esse conhecimento com as pessoas do nosso convívio, demonstrando que PANC é comida de verdade, mais saúde na mesa”, ressalta.
Mara observa que muitas pessoas da sua comunidade já conheciam algumas variedades que, antigamente eram mais utilizadas na alimentação, outros usavam determinadas espécies como remédios caseiros. “Com o tempo, esses costumes e sabedoria popular foram se perdendo. Com a oficina, foi possível resgatar esse conhecimento e aprender muito mais. Os mais jovens estranharam num primeiro momento, mas, ao entenderem o que são as PANC e os seus benefícios, ficaram encantados, assim como eu. Na capacitação que realizamos no início de janeiro, tivemos uma participação boa da comunidade para implantação da nossa horta comunitária de PANC”, relata.
Durante todo o mês de janeiro, o IBS realizou ainda atividades de capacitação orientadas para a melhoria dos solos, por meio da adubação verde, além de recomendar a adoção de outras técnicas agroecológicas de característica estruturante da produção de alimentos. As ações de intervenção deste programa de SAN seguirão pelos próximos meses na região. Paralelamente, a própria CAR está promovendo atividades de capacitação específicas para os ACR. Entre os dias 17 e 20 de fevereiro de 2020, os jovens participarão de um curso no município de Seabra-BA, com aulas práticas sobre técnicas de plantio e dietéticas, nutrição e alimentos da biodiversidade regional.