Considerados os animais mais abundantes do planeta, os nematoides são encontrados desde o fundo dos oceanos até o topo das montanhas mais elevadas. A cada 10 animais, 8 são nematoides. São seres invertebrados aquáticos de corpo cilíndrico alongado em todas as fases da vida, exceto as fêmeas de nematoides como os causadores de galhas (Meloidogyne spp.), formadores de cisto (Heterodera spp., Globodera spp.) que apresentam o corpo arredondado.
Os denominados de vida livre se alimentam de bactérias, fungos, outros nematoides e pequenos invertebrados. Enquanto os parasitas se alimentam de plantas, animais invertebrados e vertebrados, inclusive o homem.
Estima-se que as perdas anuais na agricultura mundial, em função de nematoides, giram em torno de 750 bilhões de reais. No Brasil, segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Nematologia, essas perdas giram em torno de 55 bilhões de reais.
“Os nematoides fitopatogênicos parasitam hortaliças, frutíferas e grandes culturas no Brasil, causando perdas significativas em várias regiões, sobretudo em culturas anuais de grandes extensões, especialmente a soja e o milho”, explica o Dr. Juvenil Enrique Cares, Professor Titular do Departamento de Fitopatologia da Universidade de Brasília (UnB), pesquisador da equipe de Microbiologia do Solo do projeto Regenera Cerrado, coordenada pela Professora Fatima Moreira (UFLA).
A equipe é responsável pelos estudos dos nematoides parasitas de plantas e os de vida livre. Os pesquisadores fazem a identificação e classificação dos nematoides com base em características morfológicas desses organismos. As pesquisas estão sendo desenvolvidas a partir de áreas delimitadas em lavouras de soja e milho, nas 12 fazendas participantes do Regenera Cerrado, na região sudoeste do estado de Goiás, no Bioma Cerrado.

Parte da equipe de Microbiologia do Solo durante o 1º Workshop do Regenera Cerrado
“De posse das características morfológicas de um indivíduo, a identificação do táxon se faz com o uso de chaves taxonômicas. A importância da identificação respaldada em chaves taxonômica é que, mesmo não conhecendo a identidade de um nematoide, a chave conduz o observador a caminhos que levam a identificação, de forma rápida e segura, à identidade dele”, relata o pesquisador.
Soja e Milho
Juvenil Cares pontua que os estudos sobre nematoides em andamento no projeto ainda estão em fase de análise, sem conclusões que possam ser divulgadas até o momento. Mas ele adianta que, nas amostras de solo provenientes das culturas de soja e milho, foram encontrados nematoides parasitas de plantas, assim como os de vida livre, sendo a maior diversidade encontrada na cultura do milho.
Na galeria de fotos abaixo, apresentamos imagens do arquivo do pesquisador Juvenil Cares, que mostram alguns nematoides de espécies já encontradas durante as pesquisas da equipe de Microbiologia do Solo, no projeto Regenera Cerrado.
De acordo com o pesquisador do Regenera Cerrado, a soja e o milho dividem áreas de plantio, compartilhando também algumas espécies de nematoides de importância agrícola como o nematoide das galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica), assim como o nematoide causador de lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus).
Cares acrescenta que a produção de soja vem sendo severamente afetada pelo nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines) e, em menor grau, pelo nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis), além do nematoide de lesões radiculares (Pratylenchus penetrans) e do nematoide parasita de parte aérea (Aphelenchoides sp.) que causa a doença conhecida como “soja-louca 2”. Ele pontua que o milho também pode ser severamente afetado por outro nematoide causador de lesões radiculares (Pratylenchus zeae).
Nematoides e Agricultura Regenerativa
Conforme explica o pesquisador, as práticas de agricultura regenerativa – como a adição de matéria orgânica, manutenção de cobertura vegetal, aplicação de agentes biológicos de controle e plantio direto – levam à estruturação física do solo e promovem o aumento da biodiversidade.
Essas práticas, segundo Cares, combinadas à rotação de culturas e ao uso de variedades resistentes aos nematoides, trazem benefícios como a redução da população dos nematoides patogênicos com consequente aumento da produção.
“No contexto do projeto Regenera Cerrado, as informações advindas das comunidades de nematoides parasitas de plantas e de vida livre serão úteis na avalição do impacto das práticas regenerativas na agricultura nas propriedades do solo. Os nematoides agem como integradores de propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, reagindo de maneira diferenciada diante de qualquer alteração que ocorre no solo, servindo, portanto, como fiéis indicadores biológicos de qualidade do solo”, destaca o pesquisador.
Nematoides benéficos
Os nematoides de vida livre são considerados benéficos, já que não parasitam as plantas e contribuem para a dispersão de fungos, bactérias, fungos simbiontes das plantas e decompositores da matéria orgânica do solo. Ao se alimentar desses organismos, devolvem ao solo nutrientes que podem ser absorvidos pelas plantas.
Entre os nematoides de solo, os benéficos e os prejudiciais compartilham os mesmos ambientes. Práticas que levam ao acúmulo de matéria orgânica – promovendo a diversidade e a abundância dos microrganismos do solo – tendem a favorecer os nematoides benéficos e desfavorecer os prejudiciais, principalmente pelo aumento de inimigos naturais desses patógenos.
“É possível promover um ambiente propício aos nematoides benéficos. Primeiramente evitando aplicação de pesticidas sintéticos, principalmente daqueles com amplo espectro de ação que elimina não somente pragas e patógenos alvo, mas também organismos benéficos no solo”, argumenta Juvenil Cares.
O pesquisador ressalta que os nematoides são parte de todos os elos de uma cadeia alimentar estruturada no solo. Por isso, é importante manter a integridade física do solo e promover o acúmulo de matéria orgânica, de modo a aumentar a diversidade de organismos do solo para que seja estabelecida e mantida a complexidade da cadeia alimentar desse ambiente.
Sobre o Regenera Cerrado
O Regenera Cerrado tem como objetivo disseminar técnicas de agricultura regenerativa, respaldadas cientificamente e que sirvam de exemplo escalável de produção de soja e milho para o Brasil e para o mundo.
Criado no Instituto Fórum do Futuro, em 2022, o projeto conta com o patrocínio da Cargill, execução operacional do Instituto BioSistêmico (IBS) e parceria de 10 instituições nacionais e 12 fazendas da região no entorno do município de Rio Verde, no sudoeste de Goiás.
As instituições parceiras no Projeto Regenera Cerrado são a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), o Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS), o Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano (GAPES), o Instituto Federal Goiano, a Universidade Federal de Lavras (UFLA), a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade de Brasília (UnB).
Para mais informações sobre o projeto, acesse o site do Instituto Fórum do Futuro!