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Mercado de alimentação saudável valoriza pequenos produtores

O mercado global de alimentos orgânicos se aproxima de US$ 100 bilhões ao ano, liderado por Estados Unidos, Alemanha, França e China, respectivamente, como principais consumidores. Segundo o mais recente levantamento organização internacional IFOAM, publicado em fevereiro com dados de 2017, a área de cultivo atingiu 70 milhões de hectares, 20% a mais em comparação ao ano anterior. O Brasil, com 1,1 milhão de hectares, está atrás de países como Argentina e Índia, mas tem registrado expansão no consumo: atualmente, em torno de 15% da população urbana brasileira compra regularmente esses produtos, de acordo com estudo do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável.

A tendência reflete o desafio global da produção de alimentos, marcado por novos de hábitos de consumo mais saudáveis e também por fatores como mudanças climáticas, inclusão social e combate à pobreza e fome. A ONU projeta a necessidade de expandir a agricultura em 50% para suprir a demanda de 10 bilhões de pessoas em 2050, desafio que precisará ser atingido sem degradar recursos naturais. “É maior a busca por garantia sobre o teor e a origem sustentável dos alimentos”, afirma Paulo Branco, vice-coordenador do FGVces. “Diante das pressões, empresas que não consideram essas questões e olham apenas para o lucro já começam a ser penalizadas pelo mercado”, completa.

No projeto Boa na Mesa, voltado a engajar os diferentes segmentos para a inclusão da agricultura familiar na cadeia produtiva de alimentos, a instituição desenvolveu por dois anos trabalhos de campo e apontou caminhos para a melhoria das relações de consumo, do acesso a tecnologias e das condições sociais, em especial soluções contra o êxodo de jovens devido à precariedade da produção. “A valorização da atividade depende fortemente de políticas que reconheçam a sua importância na produção da maior parte dos alimentos consumidos no dia a dia”, recomenda Branco.

O diálogo setorial favorece decisões sobre investimentos com base na realidade do pequeno produtor. Segundo o IBGE, o Brasil tem 4,4 milhões de famílias agricultoras, o que corresponde a 84% dos estabelecimentos agropecuários. Mercado de alimentação saudável valoriza pequenos produtores respondendo por um terço do valor total da produção rural, com destaque para mandioca, feijão, milho, leite e carne suína e de aves.

“Provamos ser possível melhorar a produção e a vida nos assentamentos rurais sem degradar o ambiente”, diz Lucimar Souza, diretora adjunta de desenvolvimento territorial do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), integrante da iniciativa. Para chegar a um modelo produtivo sustentável a ser replicado na região, foi criado um pacote de soluções: apoio à regularização ambiental, valorização da floresta pelo uso de madeira e outros ativos, assistência técnica e acesso a insumos.

“Foi essencial o incentivo a estruturas de beneficiamento que agregam valor aos produtos para comercialização”, explica Souza. Com investimento de R$ 25 milhões do Fundo Amazônia e participação de 2,7 mil produtores de cinco municípios do Pará, o projeto aumentou a renda em 121% e reduziu o desmatamento em 79%, em comparação à média dos dez anos anteriores.

Em São Paulo, o Instituto BioSistêmico, dedicado ao desenvolvimento rural, se propôs solucionar outra questão: a qualidade do leite. Para levar a mensagem a pequenos produtores, que precisavam se adequar às novas normas de controle do governo, a ideia foi transformar um carro em laboratório – a “vaca móvel”, nome do projeto que começou em Votuporanga (SP) fazendo análises para melhorar os padrões do leite e hoje beneficia milhares de fornecedores em diferentes regiões do país, com melhoria da renda. “Chegávamos nos sítios fazendo barulho com uma buzina igual ao mugido do animal”, conta Luis Henrichsen, diretor corporativo da instituição, com assistência às propriedades também em biotecnologia e recuperação ambiental.

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