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Mastite: métodos preventivos e a importância da seleção genética

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Nos últimos anos, a cadeia leiteira no Brasil tem passado por diversas transformações, resultando em grandes mudanças em todos os segmentos da cadeia leiteira. A desregulamentação do mercado, a abertura comercial, o processo da coleta do leite e a exigência de qualidade são transformações que requerem do produtor uma gestão cada vez mais eficiente para garantir a sua sobrevivência na atividade. Conhecer os fatores que influenciam nesta eficiência é condição primordial para minimizar riscos e sobreviver ao que é apresentado pelo mercado do leite atual.

Entre os fatores que têm grande influência na baixa eficiência temos a Mastite. Esta enfermidade, caracterizada por um processo inflamatório na glândula mamária, é uma das doenças de maior importância sanitária e econômica no Brasil, dada a sua prevalência em rebanhos leiteiros. Para que seja reduzida no rebanho, e a perda econômica seja menor, é importante que sejam realizadas ações de detecção e prevenção buscando menor incidência da doença.

Como detectar a mastite?

Geralmente, a mastite clínica é detectada por observações visuais dos próprios ordenadores que observam anormalidades do leite (presença de grumos e pus) e do úbere das vacas (edema, febre, endurecimento e dor na glândula mamária).

É importante também ter um claro controle sobre o nível produtivo de cada vaca. Assim, qualquer diminuição na produção pode indicar algum problema de saúde do animal e a mastite é o grande causador da redução produtiva.

CMT e teste da caneca de fundo preto: essenciais na detecção da mastite

Há ainda métodos mundialmente conhecidos que visam detectar a mastite clínica e subclínica de uma maneira eficiente: teste da caneca de fundo preto e CMT (California Mastitis Test).

Conhecido como teste da caneca telada, o teste da caneca de fundo preto é bastante eficiente devendo ser feito a cada ordenha. Ele detecta a mastite clínica nos primeiros jatos de leite. Quando a mastite clínica aparece, há um depósito de leucócitos (células de defesa) no canal da teta, estes formam grumos que  são visualizados logo nos primeiros jatos de leite.

Já o CMT caracteriza-se por ser rápido e simples e visa estimar a contagem de células somáticas em amostras do leite de forma imediata. Para realização do teste, são usadas “raquetes” contendo quatro cavidades, um reagente (detergente) e um indicador do pH. Quando o leite é misturado ao CMT em quantidades iguais, o reagente dissolve a membrana das células de defesa e o material genético (DNA) é liberado. O DNA formará um gel, onde quanto maior o número de leucócitos (células de defesa), maior a quantidade de gel formada. Assim, a aparência grosseira indica a presença de mastite, especialmente a subclínica.

A rotina do segundo teste irá variar de acordo com a necessidade e disponibilidade de material e mão de obra. Normalmente, as fazendas adotam uma rotina de 15 em 15 dias, ou uma vez por mês, sendo que o ordenhador deve anotar todos os resultados em planilhas de controle.

Higiene da ordenha x mastite

As medidas de um programa de controle de mastite devem enfocar a redução da taxa de novas infecções, o que pode ser obtido com o uso de medidas de higiene de ordenha (pré e pós-dipping), adequado funcionamento e limpeza do sistema de ordenha, entre outras. As medidas que serão apresentadas devem fazer parte da rotina do dia a dia da atividade.

O pré-dipping é um procedimento que faz uso de produtos desinfetantes (iodo, ou hipoclorito de sódio ou clorexidin) que irão desinfetar o teto antes da ordenha, objetivando a redução ao máximo do número de bactérias. Com uso correto pode haver uma redução em 50% das novas infecções intramamárias causadas por microrganismos ambientais. Assim, como o pré-dipping, o pós-dipping é outro procedimento de higiene aplicado após a ordenha e tem como objetivo eliminar as bactérias contagiosas antes que adentrem o úbere.

O pré-dipping é essencial para manter a saúde do úbere de vacas

O pré-dipping é essencial para manter a saúde do úbere de vacas

Outra importante ação está relacionada com o período pós ordenha. O esfíncter permanece aberto e exposto por aproximadamente uma hora. Portanto, é importante que a vaca, após ser ordenhada seja conduzida ao cocho para se alimentar, induzindo-a a ficar em pé até que o esfíncter se feche completamente.

Outro procedimento simples é o uso de papel toalha descartável para limpeza dos tetos. Por desconhecimento ou falta de cuidado, alguns ordenhadores usam toalhas de pano para “limpar” o teto das vacas antes da ordenha, mas na verdade, ele esta fazendo o contrário, o pano pode ser a via de transmissão de uma vaca doente para outra saudável. O simples uso de toalhas de papel resolveria este problema.

Além das ações durante a ordenha, é importante que haja uma rotina de limpeza dos utensílios utilizados na ordenha como baldes, tanques e aparelhos da ordenha (seguindo as recomendações do fabricante), diminuindo significativamente os índices de infecção.

Influência do melhoramento genético na redução da mastite

Muitos programas de seleção priorizavam sempre a maior produção, mas observou-se que tal processo de seleção estava implicando em maiores problemas de saúde das vacas, ou seja, vacas grandes produtoras de leite ficavam mais doentes e tinham vida útil mais curta no rebanho. Assim, começaram a incluir nos programas de seleção a resistência a doenças, garantindo alta produção em aliança com maior vida útil. Dentre essas doenças, temos a mastite.

Do ponto de vista do melhoramento genético, os problemas causados pela mastite estão relacionados com menores ganhos genéticos anuais, provocando aumentos no intervalo de gerações e/ou diminuição da intensidade de seleção.

Na atualidade, a CCS é o critério mais usado para indicar a saúde do úbere, pois mede a capacidade da vaca para resistir à infecção por patógenos. Dados de CCS são rotineiramente anotados e armazenados em grandes bases de dados em muitos países. No Brasil há certa dificuldade em obter dados sobre os índices de ocorrência de mastite, dificultando os processos de seleção. O que se sabe é que vacas taurinas, especializadas na produção de leite, são mais suscetíveis às doenças quando comparadas com zebuínas e seus mestiços. Dessa maneira, a maior resistência é observada em cruzamentos com raças mais especializadas e menos tolerantes ao ambiente de criação.

 

Referências

Pré-dipping: importância da prática e cuidados com as soluções. Rehagro. Disponível em: http://rehagro.com.br/plus/modulos/noticias/ler.php?cdnoticia=2484. Acesso em: 5 julho de 2016.

JARDIM, J.G.; QUIRINO, C. R.; PACHECO, A.; LIMA, G. R. S. Melhoramento genético visando à resistência a mastite em bovinos leiteiros. Archivos de Zootecnia (Internet), v. 63, p. 199-219, 2014.

PASSOS, B. Higiene da Ordenha Vs. Mastite Bovina. Disponível em: http://zootecniae10.blogspot.com.br/2010/08/higiene-da-ordenha-vs-mastite-bovina.html. Acesso em: 5 julho de 2016.

Rotina de Ordenha Higiênica. Casa do Criador. Disponível em: http://casadocriadorpaudosferros.blogspot.com.br/2012_08_01_archive.html. Acesso em: 18 julho de 2016.

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