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Como proceder na coleta e avaliação do sêmen bovino para o sucesso da Inseminação Artificial

Foto: Regina Groenendal/IBS

Foto: Regina Groenendal/IBS

O crescimento da pecuária brasileira nos últimos anos tem colocado o Brasil entre os maiores produtores de carne e leite no contexto mundial. O uso de biotecnologia de reprodução constitui um dos principais pilares para que este aumento ocorra de forma consistente, otimizando o sistema de produção, diminuindo os custos e maximizando o uso de animais geneticamente superiores, com um significativo aumento da lucratividade. A inseminação artificial (IA) e a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) são as principais técnicas utilizadas nesta melhoria produtiva do segmento.

As técnicas de IA e de IATF baseiam-se no ato de coletar o sêmen de touros superiores e inseminar vacas previamente selecionadas. No entanto, este processo é mais complexo e necessita de rigorosos cuidados na coleta, no manuseio, na preservação e na inseminação de vacas.

Duas são as principais técnicas da coleta do sêmen: por meio de vagina artificial ou por meio de eletroejaculador. A primeira é considerada a melhor técnica, pois simula a cópula natural. Essa técnica baseia-se no uso de uma vagina artificial composta por um tubo rígido com válvula, mucosa de borracha, cone flexível e tubo de colheita, recoberto por capa térmica. Através da válvula do tubo, coloca-se a água a temperatura de 39-45°C regulando-se a pressão.  A segunda está baseada no estímulo artificial por meio da introdução do eletroejaculador no reto do animal promovendo uma estimulação elétrica, esta estimulação irá induzir o animal a ejacular.  Seja qual for o método de coleta, é extremamente importante que o prepúcio seja higienizado com água e sabão neutro na parte externa com solução fisiológica na parte interna, o que garantirá menor risco de infecção por patógenos ambientais.

Em centrais, após coletado, o sêmen é encaminhado para o laboratório, onde será avaliado em 4 parâmetros:

1) Aspecto e volume: deve apresentar coloração uniforme e aparência opaca/cremosa. Este é o melhor indicativo da alta concentração espermática. O volume é utilizado para cálculo da dose espermática, estimando o número total de células.

2) Motilidade e vigor: realizada em um microscópio óptico que avalia a viabilidade e a qualidade espermática. Esta avaliação é subjetiva, ou seja, é uma avaliação pessoal e pode variar conforme o avaliador. Como informação, tem-se que a mobilidade média do ejaculado deve variar entre 70 e 90% e o vigor é estimado dentro dos valores de pontuação de 0 a 5.

3) Concentração espermática: representa o número de espermatozoides por unidade de volume ejaculado. Para essa contagem, utiliza-se uma câmara de Neubauer. A concentração varia em função de fatores extrínsecos (método de coleta, frequência de cópulas) e intrínsecos (idade, biometria testicular). A concentração média de bovinos é de 800 a 2000 x 106 espermatozoides/ml.

4) Morfologia: este parâmetro avalia o percentual de células normais e patológicas. Nesta avaliação, a morfologia espermática é classificada em defeitos maiores (acrossoma, cabeça subdesenvolvida, estreita na base, isolada patológica, pequena anormal, contorno anormal, cauda enrolada na cabeça, patologias da peça intermediária, cauda fortemente dobrada ou enrolada) e defeitos menores (cabeça delgada, cabeça gigante, curta, larga, pequena normal, cabeça isolada normal, cauda dobrada ou enrolada), segundo a origem do defeito.

Nos últimos anos, toda essa avaliação do ejaculado vem sendo realizada de maneira computacional com o uso de software e hardware específicos, onde todas as avaliações são realizadas de maneira mais eficiente e rápida. Com isso, a possibilidade de falhas de avaliação é minimizada, pois o efeito subjetivo da avaliação perde sua importância.

Após ser coletado, avaliado e devidamente aprovado, o sêmen precisa ser conservado de da maneira correta, garantindo sua viabilidade e suas características de motilidade e morfologia por mais tempo. Para isso, usa-se a chamada criopreservação. Nesta técnica, congelam-se os espermatozoides a 196ºC negativos em botijões com nitrogênio líquido. Isto garantirá a preservação por tempo indeterminado. Essa foi a grande evolução das técnicas de inseminação artificial, visto que a correta preservação possibilitou o constante melhoramento genético de animais de produção, por meio do uso de material genético de touros superiores e o controle de doenças.

Para o sucesso da criopreservação, devemos ter cuidados especiais com o botijão no qual as paletas com o sêmen estarão alocadas. Neste sentido, o botijão deve ser reabastecido periodicamente com nitrogênio líquido N² de acordo com a autonomia de cada modelo. Além disso, o manuseio do N² deve ser realizado com bastante cuidado pelo operador, já que tal produto pode ocasionar queimaduras graves.

Foto: arquivo IBS

Foto: arquivo IBS

No momento da inseminação, algumas precauções devem ser tomadas para que a taxa de fertilidade seja satisfatória. É fundamental a escolha de um profissional qualificado para a realização do procedimento. Esse profissional precisa receber treinamento prévio, além de se atualizar periodicamente com cursos na área. Em primeiro lugar, deve ser feito correto reconhecimento do cio da vaca, caso a opção seja a IA. Posteriormente, o animal deve estar bem contido e os materiais para a inseminação devem estar organizados em uma mesa para facilitar o manejo. Neste momento, é importante que seja realizada a higienização da vaca e do ambiente no qual será realizada a inseminação. Finalizada a inseminação, é imprescindível que sejam anotados todos os dados do procedimento, como o número da vaca, do sêmen, a data, nome do inseminador e demais informações pertinentes.

Quando somos apresentados ao tema “inseminação artificial”, acreditamos que há alguns fatores que devem ser tratados de maneira especial obtendo assim melhores resultados. Na verdade todas as ações são importantes para que o sistema tenha o sucesso reprodutivo esperado, desde a seleção genética dos touros, passando pela correta coleta, análise e armazenamento do ejaculado e finalizando na correta inseminação. Se os índices esperados não forem atingidos, é importante fazer uma minuciosa análise de todas as etapas e tentar identificar qual pode ser a possível falha, corrigindo-a imediatamente.

Referências Bibliográficas
  1. EMERICK, L. L. Dias, C. V. F Juliano, R. S. Vicente, A. G. Martinho, M. A. Jorge. Avaliação da integridade de membrana em espermatozoide bovino crio preservado para prever o índice de prenhez. Ciência Animal Brasileira (Online), v. 12, p. 536-546, 2011.
  2. BARBOSA, R. T. BERGAMASCHI, M.A.C.M. A importância do exame andrológico em bovinos. Circ.Técnica 41. São Carlos, SP: Embrapa Pecuária Sudeste, 2005 (Circular Técnica).
  3. V. J. F. Colheita e Avaliação Seminal. Palestra. Universidade estadual do Ceará, Faculdade de Veterinária Biotecnologia da Reprodução Animal.
  4. CONSERVAÇÃO DE SÊMEN. Artigo Taurus Genética. Disponível em: http://www.taurusgenetica.com.br/artigos_conservacao.htm. Acesso em: 03 de maio, 2016.
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